CARTAS DE BUENOS AIRES
Abraço: remédio sem contra indicações
Semana que vem cerca de 100 mil turistas devem desembarcar em Buenos Aires para acompanhar o festival mundial de tango. Muitos deles querem apenas aperfeiçoar o 2x4, mas estão na verdade investindo em saúde!
Universidades do mundo inteiro começam a comprovar que o tango melhora o equilíbrio, reduz a hipertensão, diminui a ansiedade, atrasa o envelhecimento e é um complemento terapêutico para diversos males como a depressão, a esquizofrenia e, principalmente, o Alzheimer.
Duas instituições estão avançadas nas pesquisas. Uma delas é a Escola de Medicina da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, que já comprovou que bailar tango com freqüência melhora o equilíbrio mais que outro tipo de atividade física e pode ajudar muito a pacientes com mal de Parkinson. O estudo foi publicado em 2007.
A Escola de Terapia Ocupacional de Montreal, no Canadá, também analisa os benefícios do tango para o funcionamento do cérebro, a coordenação motora e sociabilidade de pessoas idosas. Há, ainda, investigações em curso em lugares tão distantes como o Japão e a Finlândia segundo a Associação Internacional deTangoterapia (http://www.tangotherapy.org).
Mas não quero ir longe. Aqui mesmo, em Buenos Aires, há farto material. A Fundação Favaloro foi uma das primeiras a investigar o tema, em 1999, compacientes coronários e outros que haviam sofrido acidentes cerebrovasculares.
Os resultados foram compilados no livro “Con el corazón en el tango”, do cardiologista Roberto Peidro.
Mas porque o tango e não outra dança? Quem explica é o psiquiatra FedericoTrossero, no livro Tangoterapia.
Primeiro pela improvisação, o que permite a livre expressão dos sentimentos e emoções. Depois, pelo abraço intenso, que gera a liberação de neurotransmissores e hormônios que favorecem diferentes funções a nível fisiológico e cerebral. Por fim, pela intimidade e comunicação com o parceiro.
A Fundación Amar Tango Danza desenvolve, desde 2004, um excelente trabalho com alunos com diferentes capacidades e montou um impecável balé de jovens com síndrome de Down (eles podem ser visto no documentário Mundo Alas).
Os bailarinos do Tangueros Solidários também levam alegria e saúde a geriátricos, escolas e hospitais, dançando com quem não pode ir até uma milonga. E no quarto andar no maior hospital psiquiátrico de Buenos Aires, o Borda, desde 2000 pacientes fazem passos ao ritmo do bandoneón.
Que a ciência comprove é excelente. Mas quem baila sabe, o remédio mais barato e eficaz do mundo é o abraço. E rejuvenesce. Que o diga Carmencita Calderon, que foi parceira de El cachafaz, em 1933, e bailou até os 100 anos!
Gisele Teixeira é jornalista. Trabalhou em Porto Alegre, Recife e Brasília. Recentemente, mudou-se de mala, cuia e coração para Buenos Aires, de onde mantém o blog Aquí me quedo, com impressões e descobrimentos sobre a capital portenha
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